Dizer que o mundo estaria suspenso em pausa é uma possibilidade remota que, há seis meses, quase ninguém poderia prever num futuro próximo.
A pandemia alastra-se a uma escala planetária, ao momento em que estas linhas são escritas os números de pessoas infectadas sucedem-se numa cadência exponencial e o confinamento é uma consequência directa pedida em grande parte dos países.
Com a gradual e progressiva paragem, o mundo ganhou um outro ritmo. Sem a produção massiva, e excessiva, da janela do meu quarto viajo por uma realidade que nunca supus experienciar em meu redor, o ar do Porto tornou-se menos poluído, mais leve e puro.
O rio, agora calmo sem os constantes barcos e cruzeiros repletos de turistas, é um lago, aves que nunca antes vi boiam às centenas nas águas agora tranquilas. O mundo industrializado parou para dar lugar a um mais habitável.
Esta impressão já é possível ser fundamentada através da cuidadosa análise dos níveis de poluição nos países mais afectados ao momento pelo vírus Corona. Fecham-se fábricas, reduzem-se voos comerciais, fecham-se pessoas, contribuindo assim para uma diminuição significativa nas emissões de dióxido de nitrogénio e dióxido de carbono.
Prevê-se contudo que, com o final da quarentena, esta situação seja meramente transitória e que os níveis regressem quase de imediato aos valores anteriores, um penoso regresso à narrativa e ao paradigma dominante das últimas décadas.
Para quem viaja, e todos somos turistas e viajantes, muitas vezes na terra que temos como nossa, o actual confinamento é um momento de pausa e reflexão. Dados da Organização Mundial de Turismo revelam que para o ano de 2030 prevêem-se quase 2 000 milhões de viajantes, um acréscimo substancial quando comparados os valores de 2016, de 1200 milhões.
As companhias low cost e o sucesso massivo das redes sociais contribuem para um selvagem turismo de massas e o que de mais perverso ele acarreta, a progressiva degradação de muitos destinos e ecossistemas.
Cidades como Veneza, Petra ou Praga são transformadas em autênticos parques temáticos, praias um pouco por todo o mundo (Baía de Halong Bay, no Vietnam, as Ilhas Phi Phi, na Tailândia ou as Ilhas Galápagos, no Equador) são cada vez mais interditas ao público e a circulação condicionada, como forma última de preservação.
O excesso de turismo representa uma das maiores problemáticas actuais cuja solução é urgente. Em tempo de confinamento urge, mais do que nunca, equacionar modos de vida mais sustentáveis. O poder está nas mãos de cada um. Em nome do planeta, em nosso maior nome colectivo.